Medicamento contra o Alzheimer aprovado pela Anvisa, Veja como Funciona

Na luta contra o Alzheimer, uma nova esperança surgiu com a aprovação do medicamento Kisunla (donanemabe) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Tratamento com o fármaco é considerado inovador (Imagem: reprodução/Eli Lilly)
Kisunla (donanemabe) Medicamento para Alzheimer (Imagem: reprodução/Eli Lilly)

Sumário

Produzido pela farmacêutica norte-americana Eli Lilly, o donanemabe é indicado para o tratamento de comprometimento cognitivo leve e demência leve associadas à doença de Alzheimer.

Com o registro concedido, o medicamento já pode ser distribuído e utilizado no Brasil, embora algumas restrições importantes sejam impostas ao seu uso.

O que é o donanemabe e como ele age?

O donanemabe é classificado como um anticorpo monoclonal, uma tecnologia relativamente moderna dentro da farmacologia. Sua função é se ligar especificamente a uma proteína conhecida como beta-amiloide, que se acumula no cérebro formando placas. Essas placas são uma das marcas mais características do Alzheimer e estão associadas diretamente à perda de memória e outros prejuízos cognitivos.

A principal inovação do donanemabe é que ele atua diretamente sobre a causa do Alzheimer: a deposição de beta-amiloide no cérebro. Em vez de apenas amenizar os sintomas, como a maioria dos tratamentos anteriores, o medicamento busca reduzir o acúmulo dessas proteínas, o que, por sua vez, retarda a progressão da doença. No entanto, é importante ressaltar que o fármaco não reverte os danos já causados pela doença; ele apenas desacelera o avanço.

Quem pode se beneficiar do medicamento?

De acordo com as orientações da Anvisa, o Kisunla (donanemabe) é recomendado para pacientes que estejam nos estágios iniciais da doença, ou seja, aqueles com comprometimento cognitivo leve ou demência leve. Esta fase inicial é crucial, pois é quando o tratamento pode trazer maiores benefícios retardando o agravamento do quadro clínico.

Entretanto, o uso do donanemabe não é recomendado para todos. Pacientes que apresentam mutação homozigótica no gene da apolipoproteína E4 (ApoE4) devem evitar o medicamento. Estudos mostraram que nesses indivíduos os efeitos colaterais são mais comuns e, por vezes, mais severos.

Outro grupo que deve ter atenção redobrada são aqueles que utilizam anticoagulantes ou possuem risco aumentado de hemorragias ou edemas cerebrais. Isso porque o donanemabe, ao agir no cérebro, pode potencializar essas condições, oferecendo riscos adicionais.

Efeitos colaterais observados

Como todo tratamento medicamentoso, o donanemabe também apresenta efeitos colaterais. Dentre os mais comuns estão:

  • Febre;
  • Sintomas gripais;
  • Dores de cabeça.

Esses efeitos, embora esperados, exigem monitoramento médico rigoroso para assegurar que o paciente suporte bem o tratamento e que eventuais complicações sejam detectadas precocemente.

Resultados dos estudos clínicos

A eficácia do donanemabe foi avaliada em um estudo clínico robusto, que envolveu 1.736 pacientes diagnosticados com Alzheimer em estágio inicial. Todos os participantes apresentavam níveis leves de comprometimento cognitivo e demência.

O protocolo de administração foi dividido da seguinte forma:

  • Durante as três primeiras doses, os pacientes receberam 700 miligramas da solução a cada quatro semanas.
  • Após essa fase inicial, 860 pacientes passaram a receber 1.400 miligramas a cada quatro semanas, enquanto outros 876 pacientes receberam placebo, ou seja, uma substância inativa que simula o medicamento, durante um período de até 72 semanas.

Ao final do estudo, na semana 76, os dados mostraram que os pacientes tratados com donanemabe tiveram uma progressão clínica mais lenta em comparação com aqueles que receberam o placebo. Em termos práticos, isso significa que os pacientes que fizeram uso do medicamento mantiveram suas funções cognitivas por mais tempo, experimentando um avanço mais lento da doença.

Esse é um dado extremamente relevante porque demonstra que, mesmo sem reverter o Alzheimer, o tratamento tem potencial para preservar a autonomia e qualidade de vida dos pacientes por um período maior, permitindo-lhes manter suas capacidades mentais e funcionais de forma significativa.

Contexto no Brasil e no mundo

A aprovação do donanemabe pela Anvisa é parte de um movimento global em busca de alternativas mais eficazes para tratar o Alzheimer. A doença afeta milhões de pessoas no mundo inteiro, representando uma das maiores causas de incapacidade em idosos e gerando grandes impactos sociais, econômicos e familiares.

No Brasil, a aprovação do donanemabe amplia as opções terapêuticas disponíveis e traz esperança para pacientes e familiares. No entanto, ainda existe a necessidade de discutir o acesso ao tratamento, visto que medicamentos inovadores costumam ter custo elevado. Além disso, como o remédio é mais eficaz em fases iniciais da doença, será essencial fortalecer estratégias de diagnóstico precoce no país, para que os pacientes possam ser beneficiados no momento adequado.

Conclusão

O donanemabe representa um avanço importante no tratamento do Alzheimer, principalmente por atuar diretamente na causa da doença. Sua capacidade de retardar a progressão clínica do quadro oferece uma nova esperança para milhões de pacientes e suas famílias. Porém, o medicamento não é isento de riscos e efeitos colaterais, exigindo avaliação criteriosa antes do início do tratamento.

Com a aprovação pela Anvisa, o desafio agora é garantir que o medicamento esteja acessível para quem realmente pode se beneficiar, ao mesmo tempo em que a sociedade se prepara para um diagnóstico mais precoce e preciso do Alzheimer.

Fonte: Conteúdo baseado em matéria publicada pelo portal Olhar Digital.

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