Jovem Brasileira é Reconhecida Internacionalmente por Pesquisa sobre Alzheimer

A ciência brasileira ganhou destaque no cenário mundial com a trajetória de Giovanna Carello Collar, uma jovem gaúcha de apenas 27 anos.
A escolha de Giovanna Carello pela área foi motivada pela avó, que teve a doença, e pela mãe, que é cientista - (crédito: Divulgação)
A escolha de Giovanna Carello pela área foi motivada pela avó, que teve a doença, e pela mãe, que é cientista - (crédito: Divulgação)

Sumário

Com um trabalho inovador sobre a doença de Alzheimer, ela recebeu o prêmio One to Watch, concedido pela Alzheimer’s Association International Conference (AAIC), e conquistou uma bolsa de estudos para realizar parte de seu doutorado na prestigiada Universidade de Harvard. Este reconhecimento é um testemunho do impacto que jovens cientistas brasileiros podem ter, mesmo diante de desafios no cenário nacional de pesquisa.

Neste resumo, vamos acompanhar a trajetória de Giovanna, entender os principais pontos de sua pesquisa, os motivos que a impulsionaram a seguir essa carreira e os impactos que sua conquista traz para a ciência brasileira e para os estudos sobre o Alzheimer.

O Reconhecimento Internacional

Giovanna Carello Collar foi a única brasileira entre os quatro jovens cientistas premiados internacionalmente. O prêmio One to Watch reconhece pesquisadores em início de carreira que já demonstram contribuições relevantes e potencial de liderança em neurociência. Receber este prêmio não apenas destaca o trabalho dela, mas também coloca a ciência brasileira em evidência, mostrando a qualidade da formação e da pesquisa feitas no país.

Apesar do prestígio internacional, Giovanna mantém o foco em sua missão principal: fundar um laboratório de estudos sobre Alzheimer no Brasil, com o objetivo de fortalecer a ciência nacional e criar condições para avanços no diagnóstico e tratamento da doença dentro do país.

Entendendo o Alzheimer

A doença de Alzheimer é descrita como um transtorno neurodegenerativo progressivo que afeta o sistema nervoso. Seus principais sintomas incluem:

  • Perda de memória
  • Dificuldade de atenção
  • Alterações de humor
  • Comprometimento cognitivo

De acordo com dados da AAIC, nos Estados Unidos cerca de 7 milhões de pessoas vivem com Alzheimer atualmente. A projeção é que esse número quase duplique até 2050, atingindo 13 milhões. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 1,2 milhão de brasileiros convivem com a doença, e anualmente surgem 100 mil novos casos.

Esses números mostram o impacto crescente da doença na saúde pública, reforçando a urgência por pesquisas que busquem tratamentos mais eficazes e métodos de diagnóstico precoce.

O Trabalho de Giovanna no Zimmer Lab

Giovanna desenvolve suas pesquisas no Zimmer Lab, coordenado pelo neurocientista Eduardo Zimmer na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O laboratório é conhecido por suas investigações em neurociência, especialmente em relação aos fatores que podem proteger o cérebro contra doenças como o Alzheimer.

O foco da pesquisa de Giovanna é uma linha inovadora: ela estuda a hipótese de que o Alzheimer pode ter origem já no neurodesenvolvimento, ou seja, muito antes dos primeiros sintomas aparecerem. Isso revoluciona a forma como a doença é entendida, abrindo espaço para a criação de estratégias preventivas.

Principais Descobertas

Entre os principais achados da jovem cientista, destacam-se:

  • Mutação no gene da relina: A relina é uma proteína crucial para o desenvolvimento cerebral. A pesquisa sugere que mutações específicas neste gene poderiam oferecer proteção contra o acúmulo da proteína tau, um dos biomarcadores clássicos do Alzheimer.
  • Estudo dos astrócitos: Giovanna também investiga essas células do sistema nervoso, estudando como suas alterações ainda nas fases iniciais da vida podem indicar predisposição ao Alzheimer.

Essas descobertas podem ser fundamentais para desenvolver novos métodos de diagnóstico precoce e, futuramente, tratamentos preventivos.

Formação e Motivação Pessoal

A trajetória de Giovanna começou em 2015, quando ingressou no curso de biomedicina na UFRGS com o objetivo claro de estudar Alzheimer. Ao se formar em 2019, ela rapidamente deu continuidade à sua formação, ingressando no mestrado no mesmo laboratório, que concluiu em 2022.

Durante sua graduação, Giovanna viveu uma experiência importante no exterior: fez um semestre de intercâmbio em Farmácia Biomédica na Universidade de Coimbra, em Portugal. Ela relata que essa experiência foi transformadora, não apenas academicamente, mas também no desenvolvimento pessoal.

Influências Familiares

A escolha pela pesquisa em Alzheimer foi motivada também por uma história pessoal. A avó de Giovanna sofria da doença, o que desde a infância a inspirou a procurar formas de ajudar pessoas afetadas. Além disso, sua mãe é cientista, o que criou um ambiente propício para o desenvolvimento da curiosidade e da paixão pela ciência.

Eu cresci em um ambiente de ciência, e isso foi determinante para eu seguir essa área e conseguir concretizar o desejo que eu tinha de ajudar as pessoas“, disse Giovanna em entrevista.

Surpresa e Gratidão pelo Reconhecimento

Apesar do trabalho consistente, Giovanna afirma que nunca esperava ganhar um prêmio de tal dimensão. Sua meta sempre foi fazer ciência de impacto, mas sem buscar holofotes. O reconhecimento internacional foi uma grande surpresa, mas trouxe consigo inúmeras mensagens de incentivo e gratidão.

Recebi diversos comentários de pessoas me incentivando e me agradecendo pela pesquisa. Esse reconhecimento tão grande me pegou de surpresa“, compartilhou emocionada.

Essa visibilidade não apenas lhe trouxe o prêmio, como também abriu novas portas: Giovanna foi contemplada com uma bolsa da Fulbright para desenvolver parte do seu doutorado em Harvard, onde permanecerá por nove meses.

A Permanência no Brasil como Missão

Apesar das oportunidades de estudar e trabalhar em instituições de renome no exterior, Giovanna deixa claro que seu objetivo é continuar atuando no Brasil. Sua intenção é criar um laboratório ou um instituto dedicado exclusivamente ao estudo do Alzheimer, reforçando a produção científica nacional.

Ela faz questão de destacar a importância de investir na ciência brasileira:

Minha mensagem é para todos seguirem acreditando no nosso potencial. Muitas vezes não temos o financiamento ou apoio que gostaríamos, mas, se criarmos uma rede de cientistas aqui, a gente se torna mais forte. Eu quero fazer a diferença estando no Brasil e pesquisando com brasileiros.”

Essa postura reflete um compromisso não apenas científico, mas também social e patriótico, evidenciando que o verdadeiro avanço da ciência acontece quando o conhecimento é devolvido à sociedade que o formou.

O Impacto das Pesquisas no Futuro

Os estudos desenvolvidos por Giovanna têm potencial para transformar a forma como o Alzheimer é enfrentado. Se confirmadas as hipóteses sobre o início da doença no neurodesenvolvimento, será possível criar programas de intervenção precoce, talvez até na infância, alterando completamente o prognóstico dos indivíduos.

Além disso, a identificação de fatores genéticos de proteção, como a mutação no gene da relina, pode levar ao desenvolvimento de novos medicamentos ou terapias genéticas capazes de retardar ou até impedir o aparecimento dos sintomas.

O aprofundamento do estudo sobre os astrócitos também é promissor. Essas células foram, por muito tempo, vistas como mero suporte para os neurônios, mas hoje se sabe que têm papel ativo na saúde cerebral. Entender seu envolvimento no Alzheimer pode abrir novas linhas de tratamento.

Conclusão

A história de Giovanna Carello Collar é inspiradora não apenas pelo reconhecimento internacional, mas também pela determinação em fazer ciência de qualidade no Brasil. Sua pesquisa contribui para uma compreensão mais profunda do Alzheimer e aponta para um futuro onde o diagnóstico e a prevenção possam ser realizados de maneira mais eficaz.

Ao vencer barreiras e conquistar espaços em instituições renomadas, Giovanna mostra que é possível produzir ciência de alto impacto mesmo diante das dificuldades, desde que haja paixão, dedicação e um propósito claro.

Sua trajetória reforça a importância do investimento contínuo em ciência e educação no Brasil, como meio de construir soluções para os desafios globais e melhorar a qualidade de vida das futuras gerações.

Fonte: Conteúdo principal adaptado da matéria original do portal Correio Braziliense:
“Prêmio reconhece jovem brasileira por pesquisas sobre a doença de Alzheimer”.

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